03 julho 2015

Cortar ou não cortar

Cortar o cabelo tem o seu quê de catartico.
Quando chegou o momento de cortar com o passado, de mudar algo na nossa vida, de pegar nas ganas de viver e assumir um novo ciclo, não há nada como cortar o cabelo. Com 13 anos, eu e as minhas 3 melhores amigas cortámos o cabelo, uma espécie de ritual de passagem e de força  (afastamo-nos de uma relação de bullying). Logo depois de casar cortei o cabelo no WIP da Bica com uma cabeleireira que nas horas vagas era vocalista numa banda punk, e parti com o Frank para os melhores dias da minha vida.
Logo que a Leonor nasceu cortei o cabelo muito curto atrás e mais comprido à frente. Este ano voltei a adoptar este corte, e a verdade é que me dá muito mais energia, sinto-me capaz de tudo.
Mas nem sempre é assim. Este efeito potenciador só funciona se estiver preparada para mudar.
O meu pai sempre me preferiu ver com cabelo mais curto  (tipo à tigela, pelo queixo). Lembro-me de ele me ter cortado o cabelo e eu chorar horas. (Cheguei a trocar um corte por uma saia).
Lembro-me de, com 6 anos, cortar o cabelo num cabeleireiro em Ponta Delgada e soluçar em frente ao espelho, pedindo a Deus para o tempo voltar para trás e devolver o meu cabelo. E se é verdade que o cabelo cresce novamente, isso é fraca compensação para quem se sente enganada e odeia a sua nova imagem.
Por isso, quando fomos ao cabeleireiro  (Baetas, um cabeleireiro para crianças nas Laranjeiras) e eu convenci a Leonor a cortar o cabelo acima dos ombros  (leva-se 30 mins a desenriçar o cabelo dela) já devia estar preparada para as consequências. E não devia ter dito à cabeleireira para cortar 2 dedos mais (até porque o cabelo dela tem jeitos e encolhe).
De repente tinha 6 anos novamente e estava em frente ao espelho a pedir a Deus para o tempo voltar a trás. Mas o cabelo já não era meu, era da menina pequenina que soluçava abraçada a mim.
Ela fica linda (ela é linda!). E já está conformada, até porque todos gostaram também, até os amigos pequenos, cuja aceitação a preocupava mais (ela já percebeu que os adultos não dizem necessariamente a verdade ).
Mas esta mãe vai ter muito cuidado e cortar o cabelo delas aos poucos. Até porque me lembro bem de quanto custa. E do gozo que dá cortar quando queremos crescer por dentro.

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